Curral Falso

01/12/1570

Curral Falso

Texto por Guaraci Rosa

Situada no bairro de Santa Cruz, esta localidade se destaca como uma das mais importantes da região. Estrategicamente posicionada no encontro de quatro vias essenciais - Avenida Cesário de Melo, Estrada da Pedra, Estrada de Sepetiba e Rua Felipe Cardoso, o Curral Falso não só testemunha a convergência desses caminhos, mas também abriga e dá nome à estação do BRT (Bus Rapid Transit).

Planta cartográfica de 1848, que é o desenho de um mapa, em preto e branco, em que o Curral Falso aparece em destaque.
Planta cartográfica de 1848 - O Curral Falso aparece, sendo representado por suas iniciais CF. Na mesma imagem as iniciais SC (Santa Cruz). Importante observarmos que o Curral falso está no centro do início de 4 vias. Á esquerda a "Vala", atual Estrada de Sepetiba, á direita a Estrada Geral, mais conhecida como Estrada Real de Santa Cruz, atual Avenida Cesário de Melo. O início da via pontilhada é a atual Estrada da Pedra. Parte do pontilhado, até a anotação SC é a atual Avenida Felipe Cardoso.   

A história de Santa Cruz tem suas raízes nesta localidade. No século XVI, Cristóvão Monteiro ergueu sua primeira casa da sesmaria, dando início a uma próspera plantação de arroz. Em anos posteriores, edificou a casa da fazenda e uma capela, marcando o local onde hoje se encontra a Paróquia de Nossa Senhora da Glória.

Ilustração da Igreja de Nossa Senhora da Glória, no Largo do Curral Falso. À direita, está uma coluna, com um tanque de água; ao centro, está a igreja, rodeada por uma pequena mureta, entre duas estruturas formadas por quatro vigas de madeira e o telhado, sem paredes, cercada de Mato e árvores Em ambos os lados.
Igreja Nossa Senhora da Glória localizada no Curral Falso, 2 de maio de 1939. Arte por Magalhães Correa. Fonte: Jornal Correio da Manhã - Biblioteca Nacional.   
Fotografia em preto e branco do Acampamento Militar no curral falso. À direita, ao fundo, a Igreja Nossa Senhora da Conceição; à esquerda, as barracas dos militares. Saindo de frente da igreja chegando até o primeiro plano, uma pequena estrada de terra e algumas árvores no entorno. ao longo dela e entre as barracas, estão alguns militares. À direita, à frente da igreja, Tem um descampado de terra, que é um campo plano, com um carro estacionado.
Acampamento militar no Curral Falso, á direita a igreja Nossa Senhora da Glória, 02 de novembro de 1929. Fonte: Revista Careta - Biblioteca Nacional.   

A denominação "Curral Falso" transcende os séculos, enraizada na tradição oral do bairro. "Vem desde os tempos jesuíticos, deveu-se à existência nas proximidades de um grande curral, onde os bois, após serem recolhidos, tinham a saída impedida por uma oculta cerca, posta no lugar onde haviam entrado." (Freitas, 1987, p. 348).

Na primeira metade do século XVIII, os jesuítas tomaram medidas para preservar o acesso à sede da Fazenda, instalando uma cancela e designando um vigia. Em 1818, durante o Período Joanino, um grandioso portão foi erguido, solidificando ainda mais a importância do local.

Em 1807, o nobre Antônio Dias Pavão, o Conde de Itaguaí, estabeleceu sua residência no Curral Falso. O ilustre construiu um armazém de Secos e Molhados na localidade e expandiu seus empreendimentos no mesmo ramo para Pedra de Guaratiba, Sepetiba e Santa Cruz, transformando-se num grande comerciante e posteriormente em um destacado fazendeiro em Itaguaí.

No século XIX, ergueu-se no local a sede do Posto de Fiscalização da Fazenda. Dada a sua posição estratégica como entroncamento de quatro estradas, tornou-se o epicentro de um intenso comércio, atraindo tropeiros, viajantes e mascates.

Nessa época surgiram os ranchos, uma espécie de comércio que concentrava armazéns, hospedarias e até pastos para animais. No Curral Falso, o mais famoso foi o Rancho Real, administrado por muito tempo pela Coroa e posteriormente arrendado. Os maiores clientes desse comércio peculiar eram os tropeiros.

Até meados do século XX, um tanque com uma coluna de pedra e uma bica de metal permaneciam no local, fornecendo água proveniente do morro do Mirante. Na coluna, registrava-se a data de 1883.

Ilustração em preto e branco do Largo do curral falso, durante o dia. Ao centro, há uma pequena coluna com uma torneira expelindo água, cercada por uma mureta também pequena e, à esquerda dela, um coqueiro alto, com as folhas voando ao vento. Logo ao lado, um homem de chapéu; à direita, outra pequena mureta, cercada de vegetação, e, à frente, um caminho de pedras.
No centro da imagem podemos ver uma coluna com um tanque (1883) que existia no Curral Falso, 7 de maio 1939. Arte por Magalhães Correa. Fonte: Jornal Correio da Manhã - Biblioteca Nacional.   

Nas primeiras décadas do século XX, o Curral Falso serviu como local de acampamento para tropas do exército, realizando treinamentos militares em meio às vastas áreas descampadas de Santa Cruz.

Em 31 de outubro de 1917, a prefeitura do então Distrito Federal (atual cidade do Rio de Janeiro) oficialmente reconheceu o centro dessa localidade como Largo do Curral Falso. No entanto, em 15 de setembro de 1936, a mesma prefeitura alterou o nome para Praça Nossa Senhora da Glória. Em 27 de abril de 1949, o nome foi novamente modificado para Praça Santa Cruz, título que persiste oficialmente até os dias de hoje.

Apesar das mudanças de nome ao longo dos tempos, a população mantém viva a tradição secular do Curral Falso. Pergunte a qualquer morador de Santa Cruz, e todos reconhecerão prontamente o lugar.

Folha de jornal Imprensa Rural, com a matéria principal: "Curral Falço, porta de Santa Cruz", de 31 de março de 1953. - LEITURA SERÁ FEITA DIRETA DO JORNAL
Matéria "Curral Falço, porta de Santa Cruz", 31 de março de 1953. Fonte: Jornal Imprensa Rural - Acervo NOPH.   

REFERÊNCIAS

FREITAS, Benedicto de. Santa Cruz: Fazenda Jesuítica, Real e Imperial - Vices- Reis - 1760-1821, Volume II. Rio de Janeiro: [s.l.], 1987.

RUAS.RIO. Home, 2023. Disponível em: https://ruas.rio/servicosonline/consulta.php.

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Published in 29/12/2023

Updated in 29/02/2024

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