Ramal de Austin

05/02/1929

Ramal de Austin 

Texto por Guaraci Rosa

A comunidade do "Dreno" em Santa Cruz abriga uma história fascinante que muitos de seus moradores desconhecem. Há tempos, exatamente onde a comunidade se encontra hoje, passava uma linha de trem que conectava Santa Cruz a Austin (em Nova Iguaçu), na Baixada Fluminense.

Os trens, além de transportar pessoas, desempenhavam um papel fundamental no transporte de gado para o Matadouro de Santa Cruz. Com o passar do tempo, a linha diversificou suas atividades e passou a transportar também leite e frutas entre as localidades ao longo do percurso.

Embora o ramal tenha funcionado por pouco tempo, ele ocupa um lugar importante na história ferroviária do bairro. Grande parte do trajeto foi gradualmente ocupada por residências ao longo dos anos. Se o ramal ainda existisse nos dias de hoje, certamente seria de extrema importância para a locomoção das pessoas na região.

Tudo começou em 18 de março de 1872, quando Thomaz Cochrane solicitou à Princesa Isabel a concessão de privilégio para a construção de uma linha férrea de bitola larga que ligaria Maxambomba (Nova Iguaçu) ao Curato de Santa Cruz.

Após a doação dos terrenos e a assinatura do contrato em fevereiro de 1926, as obras tiveram início em setembro do mesmo ano e avançaram rapidamente, resultando em uma extensão de 34 quilômetros. A linha atravessava Nova Iguaçu, partindo de Carlos Sampaio até a ponte do rio Guandu-Mirim. Durante o processo de construção, foram erguidas as estações de Cabuçu, Engenheiro Araripe e Engenheiro Heitor Lira, com nomes em homenagem a funcionários da EFCB (Estrada de Ferro Central do Brasil). O ramal foi inaugurado em 5 de fevereiro de 1929, cumprindo o prazo estabelecido no contrato.

Fotografia em preto e branco da Ponte Ferroviária do Ramal de Austin (na cor branca) e da Ponte Washington Luís (na cor preta) uma ao lado da outra, em dia de sol, sobre o Rio Guandu Mirim. A ponte branca está em evidência na imagem e um carro preto está parado sobre ela, com 4 pessoas posando para a foto, ao lado dele. Ao fundo, a ponte preta, ao lado direito da branca, com vasta vegetação em volta de ambas.
Ponte Ferroviária do Ramal de Austin, ao lado da Ponte Washington Luís. Rio Guandu Mirim, 1929. Fonte: Revista Automóvel Clube - Biblioteca Nacional.  

A estação de Cabuçu recebeu esse nome em homenagem ao Engenho do Cabuçu, que, juntamente com o de Marapicu, constituía as duas mais importantes propriedades agrícolas do Morgado de Marapicu, instituído em 1772. O engenho contava com duzentas pessoas escravizadas e produzia anualmente 120 caixas de açúcar e cerca de 45 pipas de aguardente.

Além disso, próximo à estação de Cabuçu, foi construído um edifício da firma Guinle & Cia., destinado a acondicionar 2.400 caixas diárias de laranja para exportação. Essa região abrigava aproximadamente um milhão de laranjeiras, tornando a Baixada Fluminense, juntamente com outros locais, um centro fundamental na produção de laranjas durante o auge do século XX, incluindo bairros da Zona Oeste, como Campo Grande. Nesse ponto da linha, havia também um entroncamento com o ramal de Mangaratiba, localizado no quilômetro 30.

Apesar de ter sido inaugurado com sucesso, o Ramal de Austin operou apenas até 1932, no trecho entre Santa Cruz e Cabuçu, e continuou a ser utilizado para trens de serviço até 1948, na rota entre Austin e Carlos Sampaio, quando encerrou definitivamente suas atividades.

Esse foi o mesmo ano em que teve início a construção da Rodovia Presidente Dutra, também conhecida como Via Dutra, marcando o golpe final no já combalido transporte ferroviário. As rodovias assumiram o protagonismo no cenário nacional do transporte, e o Ramal de Austin, que um dia representou uma importante conexão ferroviária, tornou-se parte da história da região.

Com o passar dos anos, as lembranças do Ramal de Austin podem ter se desvanecido, mas é importante preservar essa história para que as futuras gerações possam apreciar e compreender a relevância desse antigo meio de transporte na formação da história do bairro de Santa Cruz.

REFERÊNCIAS

MANSUR, André Luiz. O velho Oeste carioca: história da ocupação da Zona Oeste do Rio de Janeiro (de Deodoro a Sepetiba) - Do Século XVI ao XXI: Volume 1. Rio de Janeiro: Íbis, 2008.

RODRIGUEZ, Hélio Suêvo. A formação das estradas de ferro do Rio de Janeiro: o resgate da sua memória. Rio de Janeiro: Memória do Trem, 2004.

http://www.estacoesferroviarias.com.br/. Acesso em: 10 ago. 2023

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Published in 10/11/2023

Updated in 29/02/2024

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