Ramal Mangaratiba

14/11/1910

Ramal de Mangaratiba

Texto por Guaraci Rosa

A criação do Ramal de Mangaratiba, no início do século XX, promoveu uma notável transformação no panorama econômico, social e demográfico da região da Costa Verde. Essa concepção teve sua origem em 1878, inicialmente sendo planejada como o "Ramal de Angra".

Entre os anos de 1910 e 1914, as estações de Itaguaí, Itacuruçá e, por fim, Mangaratiba foram inauguradas, tornando-se as principais paradas ao longo do trajeto do ramal na Costa Verde. Embora o projeto original previsse a extensão da linha férrea até Angra, esse objetivo nunca foi alcançado.

Para Mangaratiba, a chegada do ramal foi extremamente benéfica, pois a cidade buscava se recuperar após enfrentar um longo período de crise econômica iniciada na segunda metade do século XIX e que persistiu até o século XX. Contudo, ao longo do último século, Mangaratiba passou por uma grande transformação, impulsionada pelo turismo, pesca, produção agrícola e transporte de minério. Infelizmente, durante esses anos, o poder público não desenvolveu um planejamento condizente com a importância de sua história, resultando em graves problemas de infraestrutura na cidade atualmente.

A memória afetiva de muitas pessoas se concentra nas viagens de trem. Porém, é importante ressaltar que, ao longo das décadas, os trens e vagões, abertos ou fechados, foram utilizados para transportar peixes, lenha, carvão e, principalmente, bananas. Carinhosamente apelidado de "macaquinho", o trem adquiriu esse nome devido ao transporte frequente de bananas pela população local.

Fotografia em preto e branco do carregamento de bananas, em dia ensolarado. Abaixo,  uma colina com vegetação rasteira. À frente, da esquerda para a direita, a estrutura de  uma casa, uma árvore e um trem estacionado. No trem, há uma porta aberta, na qual  uma pessoa se apoia, enquanto outras trazem carregamentos sobre às costas, em fila. No  canto inferior, há a transição entre o solo firme e a água, onde se encontra uma canoa  estacionada no raso. A canoa contém um carregamento de cachos de banana e, junto a  ela, 5 pessoas estão em pé. Por fim, no canto inferior direito, em letras brancas: "Ibicuí04/1947-Praia da Ponte-Píer; Carregamento de bananas no trem Luiz Napoleão de Jesus".
Carregamento de bananas no trem “macaquinho”, Ibicu, Mangaratiba em 1947. Foto por Luiz Napoleão Veloso. Fonte: Wikimedia Commons.   

Durante muitos anos, boa parte dos moradores de Santa Cruz utilizou esse ramal como principal meio de transporte na região da Costa Verde. No entanto, o ramal possuía apenas uma linha férrea e, até a década de 1930, os vagões eram puxados por máquinas. Posteriormente, surgiu o Automotriz, também conhecido como litorina, que não era mais puxado por máquinas, mas inicialmente era movido a álcool e, mais tarde, a diesel. Infelizmente, seu funcionamento ficou restrito a determinados fins de semana.

O descaso político-administrativo levou o ramal a um declínio estrutural que se agravou com o surgimento da estrada Rio-Santos em 1974. A pressão para priorizar o transporte de minério foi intensa, enquanto as empresas de ônibus também buscavam obter a predominância no transporte local.

Na década de 1980, o transporte de passageiros foi encerrado, e, nos anos 1990, o trem retornou temporariamente para operar apenas no percurso entre Santa Cruz e Itaguaí, mas sua operação foi breve.

Atualmente, parte do ramal é utilizada para o transporte de minérios com destino ao porto da Ilha Guaíba, em Mangaratiba.

A história do Ramal de Mangaratiba é marcada por momentos de prosperidade e declínio. Reconhecer a importância dessa região é fundamental; no entanto, é igualmente essencial reconhecer os desafios enfrentados ao longo dos anos. Um planejamento adequado e investimentos na infraestrutura podem abrir novas oportunidades para revitalizar esse importante patrimônio histórico, ao mesmo tempo em que promovem o desenvolvimento sustentável da região da Costa Verde.

Fotografia em preto e branco, em que um tráfego intenso de pessoas, majoritariamente  homens, vestindo fardas ou ternos, aparece em frente à Estação de Mangaratiba. No  canto inferior direito, há um homem vestindo terno e segurando um mastro, com a figura  de um brasão, estampado em malha.
Estação de Mangaratiba, chegada de Romeiros para Festa religiosa, 1922. Fonte: Revista O Malho – Biblioteca Nacional.   
Fotografia em preto e branco do Trém Macaquinho, em dia nublado. À frente, no canto  direito, uma plataforma elevada e cercada, na qual um trem passa enquanto solta fumaça.  No canto esquerdo, está o solo, sem vegetação rasteira evidente, aparentando  ressecamento.
Trem Macaquinho com destino a Mangaratiba, 1964. Foto D.O.S Livro “O Homem e a Guanabara”, Alberto Ribeiro Lamego. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.   

Conheça mais:

História da Rodovia Rio-Santos: a antiga Estrada do Sol | Meu Rio de todos os tempos - Youtube

REFERÊNCIAS

ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS DO BRASIL. Home, 2023. Disponível em: http://www.estacoesferroviarias.com.br/. Acesso em: 20 jul. 2023

RODRIGUEZ, Hélio Suêvo. A formação das estradas de ferro do Rio de Janeiro: o resgate da sua memória. Rio de Janeiro: Editora Memória do Trem, 2004.

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Published in 10/11/2023

Updated in 23/02/2024

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