Saúde Pública: Epidemias

01/12/1903

Saúde Pública: Epidemias

Texto por Keila Gomes

As epidemias assolaram a cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, no início do século XX. As reformas urbanas não foram suficientes para alterar o cenário da cidade, que, naquela época, era extremamente insalubre, enfrentando doenças e a falta de saneamento básico. Esses desafios representavam obstáculos significativos para a construção de uma sociedade moderna e cosmopolita, à semelhança das capitais europeias.

Um exemplo emblemático é o incidente com o cruzador italiano Lombardia, que atracou na cidade em novembro de 1895. Grande parte da tripulação foi infectada pela febre amarela, resultando na morte do capitão-de-fragata Olivari e de outros marinheiros. Nesse contexto, o Rio de Janeiro ganhou a alcunha de "túmulo dos estrangeiros".

Após o surto de febre amarela, Rodrigues Alves indicou Oswaldo Cruz para liderar os esforços contra essa doença. Cruz adotou a teoria do médico cubano Carlos Finlay sobre a transmissão da febre amarela pelos mosquitos Stegomyia fasciata. Em abril de 1903, iniciou-se uma campanha de combate à doença, culminando na criação do Serviço de Profilaxia Específica da Febre Amarela.

Uma história curiosa envolve a peste bubônica, transmitida pela picada de pulgas presentes em ratos contaminados pela bactéria Yersinia pestis. A Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP) começou a comprar ratos, pagando duzentos réis por cada animal morto, o que deu origem à profissão de "ratoeiro". No entanto, a "guerra aos ratos" gerou piadas e críticas.

Apesar da diminuição da doença a partir de 1910, o início dos anos 1920 trouxe surtos de febre amarela e outras doenças nas regiões suburbanas devido à falta de saneamento e à distância das áreas centrais. Isso levou à criação do Hospital Pedro II, substituindo a escola mista da região. O hospital foi projetado para conter surtos de doenças relacionadas à falta de manutenção e drenagem dos rios.

Em 1926, o hospital desenvolveu um pavimento para lidar com surtos de varíola. Um artigo no jornal Correio da Manhã, datado de 25 de julho de 1926, relatava a preocupação de que o hospital, localizado próximo a uma escola e à estação de trem, poderia propagar a doença e causar mortes na região por conta de uma pretensa falta de cuidados.

Além do tratamento de pacientes com varíola, em Santa Cruz ocorria uma intensa campanha de vacinação. Tais medidas buscavam controlar e combater as doenças que assolavam o Rio de Janeiro na época.

Fotografia em preto e branco do antigo edifício do Hospital Imperial de Santa Cruz. Ele se  encontra no centro da imagem, com dois andares visíveis, e, anexo a ele, no canto  esquerdo, há uma segunda construção, com apenas um andar. No canto direito, há  vegetação rasteira, árvores e o início do muro que cerca o edifício. À frente, há uma  estrada de terra demarcada, também cercada por vegetação rasteira.
Antigo edifício do Hospital Imperial de Santa Cruz, mais tarde Casa do Campeiro-Mór e após Palacete do Durich. Tombado pelo IPHAN e hoje inexistente. Fonte: Santa Cruz, Fazenda Jesuítica, Real, Imperial, volume III, Império, Benedicto Freitas.   
Reportagem "Sucam trata favelado contra malária" Fonte Jornal do Brasil, página 5. Data 26 de junho de 1986. Acervo NOPH.    

REFERÊNCIAS

AS DOENÇAS do Rio de Janeiro no início do século XX e a Revolta da Vacina em 1904. Brasiliana Fotográfica, abr. 2020. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=19095. Acesso em: 24 de agosto de 2023.

CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

VACINEM-SE. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 25 jul. 1926. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=089842_03&pasta=ano%20192&pesq=%22%20hospital%20pedro%20II%20santa%20cruz%20%22&pagfis=26604. Acesso em: 24 ago. 2023

0 comments

Comment
No comments avaliable.

Author

Info

Published in 10/11/2023

Updated in 22/02/2024

All events in the topic Espaço Vivido:


19/04/1565Povos originários da região
01/12/1567Fundação do bairro
01/1589Chegada dos Jesuítas
1596Morro do MiranteMorro do Mirante
05/03/1579Guaratiba - Divisa com Santa Cruz
02/1707Origem do nome do bairroOrigem do nome do bairro
12/1707Sede da Fazenda de Santa CruzSede da Fazenda de Santa Cruz
1759Manuel de Couto Reis
1808Estrada Real de Santa Cruz
1816Chineses
1816Morro do Chá
30/12/1817Hospital dos escravizados
1817Thomas Ender
01/12/1826Marcos ImperiaisMarcos Imperiais
26/03/1826Debret e a Missão Francesa
22/11/1842Correios e Telégrafos
01/12/1872Fonte WallaceFonte Wallace
02/12/1878Estação ferroviária de Santa Cruz
15/11/1879Telefone
13/11/1881Largo do Bodegão
1884Estação do Matadouro
1890Cemitério de Santa Cruz
02/12/1895Belle ÉpoqueBelle Époque
25/04/1895Ramal Santa Cruz x Itaguaí
01/12/1895Rua Felipe Cardoso
01/12/1903Saúde Pública: Epidemias
14/11/1910Ramal Mangaratiba
1890Loja Tofani
05/02/1929Ramal de Austin
25/11/1934Grêmio Procópio Ferreira
14/10/1945Eletrificação do trem
1946Antônio Ciraudo
13/11/1935Padre Guilherme Decaminada
30/05/1955Cine Fátima
1958Zezinho do Café
04/09/1978Novo Hospital Pedro II
25/07/1967Vila Paciência - Favela do Aço
07/05/1967Favela do Rollas
1974A nova Igreja Matriz
01/03/1975Antares
30/05/1981Cesarão
23/07/1981Paciência - Divisa com Santa Cruz
29/03/1980Avenida João XXIII
13/10/1904Feira livre
01/12/1966Tia Gaúcha
12/10/2004Cidade das crianças
01/12/2005Programa "Minha Casa, Minha Vida"
01/12/1570Curral Falso
05/07/1818Itaguaí