Sede da Fazenda de Santa Cruz

12/1707

A Fazenda Jesuítica de Santa Cruz

Texto por Keila Gomes

A Fazenda de Santa Cruz foi uma grande propriedade da fase colonial do Brasil, inicialmente sob o poderio dos padres jesuítas; seu núcleo e residência se concentravam onde é atualmente o Batalhão Villagran Cabrita, no bairro de Santa Cruz. A propriedade é considerada a maior e a mais antiga do Brasil.

Card de uma arte colorida, feita à mão, com a imagem da fazenda centralizada e bordas brancas. na parte superior do card, na margem, em letras azuis: "terceira partie, PL 33". Há um grande prédio de dois andares, com muitas janelas, na beira do mar, e alguns prédios menores em volta, além de, aproximadamente, trinta casas humildes no terreno. ao fundo, o céu claro, com montanhas do outro lado do mar. no rodapé em letras azuis: "Vue du chateau Imperial de Santa Cruz".
Fazenda Real de Santa Cruz. Litografia de Thierry Frères, publicada em 1839. Fonte: Biblioteca Nacional Digital.    

Inicialmente doada por Mem de Sá, na condição de sesmaria, a Cristóvão Monteiro em 1567, por seu brioso auxílio na expulsão dos franceses. O clã de Cristóvão foi uma das primeiras famílias da fidalguia a chegarem a terras fluminenses; denominada por João Fragoso uma família “conquistadora das terras e dos homens”. Portanto, Cristóvão Monteiro pertencia ao primeiro grupo fundador e à primeira elite senhorial. Vale destacar que a primeira construção colonial do bairro situava-se na localidade denominada “Curral Falso”, atualmente localizado no conjunto habitacional chamado Otacílio Camará (popularmente chamado de “Cesarão”), onde foram construídos um engenho e uma capela (no exato local em que está hoje situada a Igreja da Nossa Senhora da Glória). Tal construção só foi possível após períodos de hostilidades com os indígenas da região, segundo Benedicto de Freitas, e isso muitos anos decorridos da doação régia, quando os indígenas estavam em luta por todo o litoral de Sepetiba e Guaratiba (FREITAS, 1985, pp. 31)

Fotografia colorida de uma paróquia, pintada em azul com detalhes em branco. Uma grande sombra de árvore, com a copa cheia, está na frente da construção, cuja cor azul é quase do tom do céu. a paróquia tem dois andares com janelas, além de uma torre com um sino, e uma cruz acima dela. a foto foi tirada da altura do chão, com várias plantas e flores na frente e duas árvores pequenas, no canto esquerdo.
Paróquia Nossa Senhora da Glória, localizada na Praça Santa Cruz. Foto por Mônica Parreira.    

Cristóvão Monteiro, primeiro ouvidor-mor do Brasil, doa parte de suas terras à Companhia de Jesus, na condição de “legado pio” para que os padres inacianos, após sua morte, encomendassem sua alma. Some-se a essa a doação ainda em vida da Marquesa Ferreira, esposa do ouvidor e completamente iletrada, condição comum aos nobres da época. Os jesuítas ainda negociaram com Catarina, filha do casal, a permuta de terras de que ela era herdeira. Assim, a Companhia de Jesus se tornou proprietária de toda a porção de terra do então ouvidor-mor de Mem de Sá.

Os Jesuítas anexaram essas terras doadas a outras transações, como compra de terras, permutas, inúmeras incorporações e desmembramentos. Isso deu origem a uma enorme fazenda, de aproximadamente 23 mil hectares (que ia da Baía de Sepetiba a Vassouras, abrangendo as cidades de Mangaratiba, Itaguaí, Barra do Piraí, Mendes, Nova Iguaçu, Paracambi, Paulo de Frontin, Piraí, Rio Claro e Volta Redonda).

Diferente das demais fazendas da época, quando era estabelecido um latifúndio com monocultura, a referida fazenda tinha um plantel com variados gêneros agrícolas que foram adaptados a grandes construções arquitetônicas, com uma produção adaptada à geografia do terreno, realizando diversas atividades, tais como a pesca, a criação de gados, a cana-de-açúcar, o café, a serralharia, a joalheria, a plantação de arroz, o curtume, a olaria etc. A política utilizada com os povos originários pelos padres da Companhia de Jesus era a de aldeamento, que visava inicialmente à mão de obra indígena. Com o passar do tempo, e com o aumento de sua extensão, foi utilizada a mão de obra africana escravizada.

Presume-se que sua residência começou a ser construída no início do século XVIII, como convento e igreja no bloco principal, com dois pavimentos, e outros pequenos prédios; com trinta e seis aposentos, formavam um poderoso conjunto arquitetônico. Apesar de serem consideradas construções “eternas”, devido à resistência de seus pavimentos, contrastam-se com a finura das paredes das chamadas celas. Tal fator pode ser explicado pela não privacidade da época, termo que não existia na vida religiosa. 

O término de sua construção se dá em 1751, com os materiais da época: o granito, retirado de áreas próximas às construções (portanto, granito de Santa Cruz), madeira, escolhida por escravizados especializados, cal, terra, areia gorda e cola de peixe; e a mão de obra utilizada obviamente foi a escravizada.

Fotografia em preto e branco, tirada durante o dia, da altura do gramado do Palácio, bem em frente à porta de entrada. O palácio possui dois andares, dezesseis janelas no primeiro andar e dezessete no segundo, uma grande sacada no alto e uma torre com dois andares aparentes acima do restante do prédio, também com duas janelas, uma em cada andar. Há diversas pessoas, em pé, em frente ao palácio e de costas para a foto, e aproximadamente vinte bandeiras hasteadas.
Antigo Palácio da Imperial Fazenda de Santa Cruz, na cidade do Rio de Janeiro. Foto tirada no começo do século XX, a fachada ainda conservando a maior parte das características da época do império, que seriam posteriormente descaracterizadas. Foto por Victor André Villon. Fonte: Wikimedia Commons.     

REFERÊNCIAS

FREITAS, Benedicto. Santa Cruz: Fazenda Jesuítica, Real, Imperial. Volumes I e II. Rio de Janeiro: Edições do Autor, 1985;1987.

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Published in 10/11/2023

Updated in 20/02/2024

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