Criação da Base Aérea de Santa Cruz

21/08/1944

Base Aérea de Santa Cruz – Uma Jornada Histórica

Texto por Guaraci Rosa

Em 26 de dezembro de 1936, o Aeroporto Bartolomeu de Gusmão foi inaugurado em Santa Cruz, junto com um hangar destinado a dirigíveis (Zeppelins). Esse complexo aerostático foi construído com tecnologia alemã pela empresa Luftschiffbau-Zeppelin GmbH.

Naquela época, Getúlio Vargas manifestava simpatia pelos regimes totalitários da Alemanha e da Itália. Estávamos antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, e o nazismo alemão ainda não havia revelado sua verdadeira natureza. Os dirigíveis Graf Zeppelin e Hindenburg ostentavam a suástica alemã exteriormente, algo inimaginável nos tempos atuais.

Em fevereiro de 1942, o Brasil rompeu relações diplomáticas com Itália, Japão e Alemanha, resultando na revogação da concessão do aeroporto e do hangar. Esse momento marcou o início da transformação do complexo aerostático em Santa Cruz, que passou a ser comandado pelo Ministério da Aeronáutica, recém-criado em 1941.

Em agosto de 1942, o Brasil declarou guerra ao Eixo (Alemanha, Itália e Japão), unindo-se aos Aliados (EUA, URSS e Inglaterra) na Segunda Guerra. A população brasileira percebeu a entrada na guerra como resposta aos afundamentos de navios mercantes por submarinos alemães e italianos.

No entanto, uma guerra não se resume apenas a sentimentos patrióticos; interesses financeiros também desempenham um papel crucial. Liderando os Aliados, os Estados Unidos negociaram com o Brasil a compra de matérias-primas e o financiamento de uma siderúrgica em Volta Redonda. Vargas apoiou essas propostas, e logo após, os EUA ocuparam bases militares no Nordeste.

Uma unidade da Marinha dos Estados Unidos, equipada com dirigíveis "Blimps", estabeleceu-se no Aeroporto Bartolomeu de Gusmão na Base Aérea de Santa Cruz. Sua missão era patrulhar contra submarinos e escoltar comboios no Atlântico Sul.

Em dezembro de 1943, surgiu o Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA), notório pelo grito de guerra "Senta a Púa!".

Fotografia colorida de um brasão redondo, com o fundo vermelho e a ilustração de um avestruz ao centro. A ave tem poucas penas, usa um quepe branco e um escudo azul, com cinco estrelas brancas, sendo a do centro menor que as outras; segura uma arma de onde sai um projétil e está em pé, com as pernas abertas sob uma nuvem branca, na qual está escrito, em letras pretas, "Senta a pua".
Brasão do 1° Grupo de Caça da FEB, 30 de agosto de 2009. Autor Capitão Aviador Fortunato Câmara de Oliveira. Fonte: Página Oficial da Força Aeréa Brasileira - Wikimedia Commons.      

Em 21 de agosto de 1944, o aeroporto foi redesignado como Base Aérea de Santa Cruz.

Em outubro de 1944, o Brasil enviou 43 pilotos e centenas de pessoal de apoio para a Itália. Eram membros da Força Aérea Brasileira (FAB), muitos deles de Santa Cruz.

Ao longo de mais de 80 anos de existência, a Base Aérea de Santa Cruz testemunhou inúmeros comandantes. Um deles se destaca: Rui Moreira Lima, criador do lema "Senta a Púa". Durante a guerra, quando era tenente e piloto de caça, participou de 94 missões na Itália entre novembro de 1944 e maio de 1945.

Em 1º de abril de 1964, ocorreu o golpe militar/empresarial no Brasil. Nesse momento, a Base Aérea de Santa Cruz era liderada por Moreira Lima, um democrata que acreditava na não participação dos militares na política. Defendeu o presidente João Goulart. Por isso, perdeu sua patente, foi proibido de voar por 17 anos e sua família sofreu perseguições.

Ele foi preso duas vezes em 1964 e novamente em 1970. Em um depoimento à Comissão da Verdade, relatou um total de 200 dias de prisão. Em 1979, afirmou em entrevista: "No mundo inteiro, ninguém tolera a covardia do torturador. É um criminoso, um covarde". Posteriormente, foi anistiado. O Major-Brigadeiro Rui Moreira Lima faleceu em 13 de agosto de 2013.

A Base Aérea de Santa Cruz abrigou diversas unidades e atualmente é a sede dos 1º e 2º Esquadrões do 1º Grupo de Aviação de Caça, além do 1º/7º Grupo de Aviação, 3º/8º Grupo de Aviação e 1º/1º Grupo de Comunicações e Controle.

Vale destacar que o Hangar do Zeppelin do Aeroporto Bartolomeu de Gusmão, situado na Base Aérea de Santa Cruz, é protegido pelo Instituto Histórico do Patrimônio e Artístico Nacional (IPHAN), tombado sob o número do processo 994-T-1978, Livro do Tombo Histórico nº 550, de 03/12/1998, englobando as estruturas como pontes rolantes, elevadores, escadas de acesso, motor, mecanismo de abertura das portas principal e secundária, bem como a estação de passageiros anexa.

A Base Aérea de Santa Cruz representa um tesouro histórico do bairro. Sua preservação e história devem ser mantidas, a fim de transmitir o conhecimento tanto às gerações atuais quanto às futuras, pois desempenham um papel vital na memória local.

Fotografia aérea, em preto e branco, de nove aviões estacionados, lado a lado, na pista. A foto foi tirada durante o dia, com o portão de entrada aberto.
Vista da pista da Base Aérea de Santa Cruz, foto tirada a partir da torre de controle, 1952. Autor desconhecido. Acervo NOPH.      
Fotografia em preto e branco do interior do hangar. À esquerda, há algumas salas com janelas e portas fechadas; no centro, alguns aviões; e um reboque, à direita.
Interior do Hangar do Zeppelin na Base Aérea de Santa Cruz, atualmente utilizado por aviões. Data provável, década de 1990. Autor desconhecido. Acervo NOPH.      

Conheça mais:

Aviação de caça - 1977

REFERÊNCIAS

BBC NEWS BRASIL. Brasil, 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil. Acesso em: 12 ago. 2023

HISTÓRIA DA FAB. História da Força Aérea Brasileira, 2023. Disponível em: https://historiadafab.rudnei.cunha.nom.br/. Acesso em: 12 ago. 2023

IPATRIMÔNIO. Patrimônio Cultural Brasileiro, 2023. Disponível em: https://www.ipatrimonio.org/. Acesso em: 12 ago. 2023

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Published in 12/11/2023

Updated in 19/02/2024

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