Ponte dos Jesuítas

18/09/1952

Construção da Ponte Dos Jesuítas

Texto por Guaraci Rosa

Sob o ponto de vista arquitetônico e de engenharia, é incontestável o impacto significativo da presença jesuítica no contexto colonial do Brasil. Um exemplo notável desse legado pode ser encontrado em Santa Cruz, nos séculos XVII e XVIII, na estrutura da Ponte ou Represa do Guandu, mais conhecida como Ponte dos Jesuítas, que pode ser considerada a maior realização da engenharia brasileira no século XVIII.

Para compreender a construção dessa ponte, é essencial observar sua localização em terras originalmente pertencentes a Cristóvão Monteiro, que mais tarde foram doadas à Companhia de Jesus, aos padres jesuítas. Desta doação, surgiria a Fazenda de Santa Cruz, que ao longo dos anos se transformou em um vasto latifúndio, alimentado por aquisições, doações, trocas e especulações de terras.

Fotografia em preto e branco, amarelada e desgastada, de uma ponte pequena. Há plantas e 4 colunas de cada lado da ponte e uma árvore ao fundo. A foto foi tirada da mesma altura que um pedestre estaria, na ponte.
Ponte dos Jesuítas em uma foto antiga, levemente amarelada. Data provável, década de 1920. Autor Desconhecido. Acervo NOPH.       

A notável característica da ponte reside em seu sistema de "óculos", projetado para permitir a drenagem do excesso de água durante as enchentes e a retenção dela durante os períodos de estiagem. Essa inovação reflete a engenhosidade e conhecimento técnico dos jesuítas.

Com a expulsão dos jesuítas em 1759, a ponte passou por várias mãos, incluindo a Coroa, o Império e, finalmente, chegou à República. Após décadas de negligência, sua importância foi redescoberta em 1933, embora não tenha sido completamente restaurada nessa época. Foi também quando a Ponte Lindolfo Collor, seguindo a mesma lógica da ponte jesuítica, surgiu, e os canais Itá e São Francisco foram recuperados graças a um projeto liderado pelo engenheiro Hildebrando de Araújo Goes.

A pavimentação da ponte consiste em sólidas lajes, popularmente conhecidas como "pé de moleque", que serviam de base para o revestimento dos arcos, apelidados de "óculos". Os padres controlavam o fluxo da água por meio de comportas de madeira. A ponte é construída em pedra talhada, conhecida como cantaria, e possui oito pinhas ornamentais em suas colunas de granito. No centro, exibe a inscrição "IHS", que representa as iniciais de "Iesus Hominum Salvator", que significa "Jesus Salvador da Humanidade". Além disso, uma inscrição em latim pode ser encontrada:

Flecte genu, tanto sub nomine, flecte viator 

Hic etiam reflua flectitur amnis agua

"Dobra o joelho sob tão grande nome, viajante

 Aqui também se dobra o rio em água refluente."

Fotografia em preto e branco de uma placa de cimento, com a inscrição "Ponte dos jesuítas", em Latim. A placa está entre duas colunas com detalhes redondos em cima e árvores ao fundo, durante o dia.
Detalhe da inscrição em Latin na Ponte dos Jesuítas. Data provável, década de 1990. Autor Desconhecido. Acervo NOPH.       

Em 1938, a Ponte do Guandu foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), devido à sua imponência, atraindo a admiração de geógrafos, historiadores, geólogos e entusiastas em geral.

Finalmente, em novembro de 2022, a ponte foi entregue à população, após um processo de restauração originado por inúmeras solicitações de moradores conscientes de sua importância histórica para o bairro de Santa Cruz, para a cidade do Rio de Janeiro e, por que não dizer, para todo o País.

Fotografia colorida da Ponte dos Jesuítas, durante o dia. Ela é uma ponte baixa, com quatro arcos atravessando embaixo dela e algumas pequenas colunas em toda sua extensão. O chão é gramado e a ponte é branca, com detalhes feitos de pedra.
Ponte dos Jesuítas, recém restaurada. Foto por Mônica Parreira 

Conheça mais:

Ponte dos Jesuítas, erguida no Brasil Colônia sobre o Rio Guandu, retorna à forma original

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Soraya. Ponte dos Jesuítas, Rio de Janeiro (RJ): uma análise de seus elementos com base na integração de registros textuais, iconográficos e petrográficos. Anais do Museu Paulista [Internet], v. 27, e06, 2019.

MANSUR, André Luís; MORAIS, Ronaldo. Fragmentos do Rio antigo. Rio de Janeiro: Edital, 2014.

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Published in 10/11/2023

Updated in 1/03/2024

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