Capoeira

01/12/1680

Capoeira

Texto por Keila Gomes

A capoeira, uma forma única de expressão cultural e arte marcial, tem raízes profundas no solo brasileiro. Originada como uma manifestação da população escravizada no Brasil colonial, a capoeira surgiu como uma forma de resistência e luta por liberdade. Desenvolvida por descendentes de africanos que foram submetidos à escravidão, essa arte marcial é reconhecida por sua impressionante combinação de movimentos ágeis e complexos, incorporando chutes, rasteiras, cabeçadas, joelhadas, cotoveladas e acrobacias que podem ocorrer tanto no chão quanto no ar. Como eram proibidos de praticar qualquer tipo de luta, a música foi utilizada como uma maneira de disfarce, dessa maneira ela poderia ser percebida como uma dança.

A musicalidade é  uma característica notável que distingue a capoeira de outras artes marciais. Os praticantes dessa arte não apenas dominam técnicas de luta e jogo mas também aprendem a tocar os instrumentos musicais tradicionais, como o berimbau, o atabaque e o pandeiro, enquanto entoam cânticos característicos. A musicalidade não é apenas uma parte acessória da capoeira; ela está profundamente entrelaçada com os movimentos e a energia da roda, o espaço onde os praticantes se enfrentam e interagem.

No entanto, a história da capoeira também é marcada por períodos de repressão. Durante o tempo da escravidão, quem a praticasse era castigado  e mesmo após sua abolição, os praticantes de capoeira eram sujeitos a penas rigorosas. Desde 1889 até 1937, a capoeira era considerada crime de acordo com o Código Penal brasileiro, sendo punida com prisão para aqueles que a praticassem em público. Somente com a influência direta do então presidente Getúlio Vargas, que testemunhou uma apresentação e ficou impressionado, é que a proibição foi finalmente revogada em 1937.

O valor cultural e histórico da capoeira foi oficialmente reconhecido em níveis globais. Em 2008, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) registrou a "Roda de Capoeira" como um bem cultural imaterial, após um inventário realizado em diversos estados brasileiros. Em 2014, a Unesco conferiu à capoeira o título de "Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade", destacando sua importância como um elo entre passado e presente, além de ser um meio de preservar e transmitir a rica herança cultural afro-brasileira.

A capoeira continua a pulsar nas comunidades e bairros da periferia. Em Santa Cruz, não seria diferente. Incluída nas academias como modalidade de luta e em muitas praças ao redor do bairro. Exemplos como a roda que existiu na Praça Sergil, no Cesarão, testemunham a vitalidade da prática. Grupos como Abadá Capoeira, Capoeira Santa Cruz com Mestre Félix, Grupo Senzala de Capoeira com Mestre Peixinho e Grupo Giori de Capoeira, bem como a Capoeira da Arena Sandra de Sá, demonstram o compromisso contínuo em manter viva a tradição da capoeira, conectando as gerações e espalhando sua mensagem de resistência, liberdade e cultura.

Pintura colorida, diúrna, de duas pessoas pretas jogando capoeira. Ao seu lado direito, estão outras duas pessoas pretas, sendo um homem sentado encostado em uma casa e uma mulher de turbante em pé segurando um bebê. Acima dessa mulher, na casa em que o homem ao seu lado se encosta, há uma janela onde um homem preto também assiste. Ao lado direito, um soldado fardado, está pulando uma pequena cerca de madeira, olhando para eles. Ao fundo, árvores e montanhas.
Capoeira, pintura de Augustus Earle, 1822. Fonte: Biblioteca Nacional da Austrália.     

Conheça mais:

Roda de Capoeira é mais novo Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890. Promulga o Código Penal. Brasília, DF: Senado, 1890. Disponível em: http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=66049. Acesso em: 5 jul. 2023.

ARAÚJO, Zulu. A afirmação da capoeira. 2011. Disponível em: https://www.gov.br/palmares/pt-br/midias/arquivos/artigos-institucionais/artigo-10.pdf. Acesso em: 2 jul. 2023.

AREIAS, Almir das. O que é capoeira. Brasília: Brasiliense, 1983. 

PÁGINA Turma do Galpão Senzala. Facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/turmadogalpaosenzala/?locale=pt_BR. Acesso em: 5 jul. 2023.

0 comments

Comment
No comments avaliable.

Author

Info

Published in 14/11/2023

Updated in 4/03/2024

All events in the topic Festejos e Cultura popular:


05/1707Os Folguedos de Santa Cruz
01/12/1752Música Sacra e Profana
30/12/1794Padre José Maurício em Santa Cruz
24/02/1891Banda 24 de fevereiroBanda 24 de fevereiro
01/12/1911Blocos carnavalescosBlocos carnavalescos
19/02/1920ClóvisClóvis
1930Mineiro-PauMineiro-Pau
01/12/1934Luiz Bonfá
27/11/1940Emílio Stein
01/12/1940Nichol Xavier
01/02/1940Coretos Carnavalescos
18/02/1959G.R.E.S Acadêmicos de Santa CruzG.R.E.S Acadêmicos de Santa Cruz
23/04/1963Festa de São JorgeFesta de São Jorge
01/12/1976Jotabê
02/02/1976Presente para Iemanjá
01/12/1995Bob Rum
07/08/2008As MariAmasAs MariAmas
01/12/1680CapoeiraCapoeira
06/10/2019Concentra ImperialConcentra Imperial