Blocos carnavalescos

01/12/1911

Blocos carnavalescos

Texto por Keila Gomes

Os Blocos de Santa Cruz eram formados principalmente pelas classes menos abastadas que realizavam seu próprio carnaval nas ruas. Inicialmente, o Carnaval consistia no entrudo, uma prática em que as pessoas brincavam na rua jogando bolas de cheiro compostas de fragrâncias como limão e outras águas perfumadas, incluindo líquidos duvidosos e malcheirosos, às vezes contendo urina. Essa prática não era bem vista pelas camadas mais altas, que preferiam as sociedades carnavalescas inspiradas nos carnavais de Veneza.

Em 1914, o jornal "A Época" registrou a existência de sociedades carnavalescas, cordões e ranchos em Santa Cruz, como o Triunfo da Lyra, Infantis, Progresso da Areia Branca, Flor da Mocidade em Santa Cruz e Filhos do Oceano em Sepetiba. Até a colônia Sírio-Libanesa estava envolvida, promovendo prêmios para as agremiações. Políticos locais, como Júlio Cesário de Melo, também incentivavam a população nesse sentido.

Durante os anos 30, os jornais enfatizavam as Sociedades Carnavalescas, uma vez que as escolas de samba ainda não haviam surgido na região. O carnaval local era considerado o melhor do subúrbio e era comparado aos carnavais europeus, que inspiravam os artistas locais. Contudo a falta de apoio do poder público e a distância das áreas centrais prejudicavam os 9 blocos, sociedades carnavalescas e outros grupos.

Nos anos 50, uma variedade de blocos competia por prêmios oferecidos pelo Democráticos, apresentando nomes curiosos como "Cala a Boca Etelvina", "Você só com soros", "Implorando Timbuca" e outros. Em 1953, surgiram as primeiras escolas de samba, sendo a Unidos de Caxias a pioneira a se transformar em escola de samba. Em 1954, o Bloco do Sereno, mais tarde renomeado como Bloco da Crítica, ganhou notoriedade ao expressar descontentamentos locais.

O Bloco da Crítica constituía-se de pessoas de classe média que protestavam de uma maneira bem debochada dos problemas recorrentes de Santa Cruz. Criticavam desde a programação do Cine Fátima até a distribuição de água, que era precária desde aquela época. Mesmo sendo em meados dos anos 70, não havia opressão da parte dos órgãos públicos. E é considerado um dos mais famosos blocos de Santa Cruz.

Panfleto na cor bege-claro, com escritas em vermelho, que exibem a letra da música. No topo do panfleto, está escrito: "Bloco da crítica-84, traje: mini saia e blusa cor vermelha". Na parte inferior, tem a logomarca e o endereço da Gráfica Santa Rita.
Panfleto com letra do samba enredo do Bloco da Crítica “Dá volta por Cima”, 1984. Autor Jotabê. Acervo NOPH.  

Blocos vestidos de mulher, blocos com pessoas de roupa rasgada e máscara (Pai João), assim como blocos temáticos de origem africana e indígena como o Bloco Zulu e Princesa Isabel, enriqueceram a diversidade do carnaval. Os novos moradores da região, oriundos das remoções ocorridas nos anos 1960, também contribuíram para a festividade, criando, por exemplo, o Unidos de Antares em 1978.

Em resumo, os blocos carnavalescos eram agentes de alegria para as classes menos favorecidas, promovendo um Carnaval inclusivo e democrático, que não fazia distinção de classe social. O carnaval de rua continuou a desempenhar esse papel de democratização da cultura popular ao longo dos anos.

Fotografia em preto e branco, diúrna, de alguns foliões desfilando na rua, entre casas. Alguns trajam fantasias e outros roupas normais. Em primeiro plano, está uma pessoa usando uma fantasia de um dragão em que ela está montada nele. Ao fundo, alguém segura um cartaz, onde se lê "salve o carnaval de 1966".
Foliões fantasiados no carnaval de 1966 em Santa Cruz. Autor desconhecido. Acervo NOPH.  

REFERÊNCIAS

CASTILHO, G. A. de. O ultra esplêndido carnaval na Terra das Maravilhas: As artes visuais na festa de Momo do subúrbio de Santa Cruz (1904-1980). 2019. Tese (Mestrado em Artes Visuais) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.

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Published in 10/11/2023

Updated in 4/03/2024

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