Clóvis

19/02/1920

Clóvis

Texto por Keila Gomes

Vocês sabiam que os bate-bolas ou chamados de "Clóvis" vão aparecer aqui nos arredores de Santa Cruz?

O Clóvis (denominado dessa forma somente em Santa Cruz) surgiu na década de 20 juntando elementos da Folia de Reis, a feitura das máscaras de papel marché e as bexigas de boi que eram fornecidas pelo matadouro de Santa Cruz e logo depois substituídas pela capa de mortadela.

Panfleto de fundo bege, com um grande quadrado amarelo e dentro dele está escrito em letras pretas: "Máscaras e fantasias de carnaval O Clóvis. exposição e vendas 8 de fevereiro a 1 de março de 1985". no rodapé: "sala do artista popular. MEC / SECRETARIA DE CULTURA. FUNDAÇÃO NACIONAL DE ARTE - FUNARTE. Instituto nacional do folclore. Rua do Catete 179, Rio de Janeiro - RJ em frente a estação metrô-catete. apoio: fundação de arte do Rio de Janeiro. coordenação de museus"
Cartaz do evento “Máscaras e Fantasias de Carnaval - O CLÓVIS”, evento na FUNARTE, 1985. Autor desconhecido. Acervo NOPH.       

Essa fantasia que nos é bem familiar remete à parte de uma tradição carnavalesca que há muito tempo está presente nas ruas do subúrbio do Rio de Janeiro. "Vestidos de macacão, bolero, máscara, luvas, meiões e empunhando bexigas ou sombrinhas, eles se empenham o ano inteiro na confecção das fantasias e se preparam para as saídas e competições durante os quatro dias de folia”.(Veja Rio, 2017)

Fotografia em preto e branco de cinco foliões de vestidos listrados, com as listras na horizontal, girando. Todos usam perucas, máscaras e portam sombrinhas. Acima deles, alguns varais com bandeirinhas e, no entorno, casas e árvores.
Foto em P&B de um grupo de clóvis em Santa Cruz. Data provável: década de 1980. Foto por Ana Lúcia Monteiro. Acervo NOPH.       

A prática é antiga – os primeiros registros dos clóvis na cidade são do início do século XX. O coordenador do Centro de Referência do Carnaval do Instituto de Artes da Uerj, Luiz Felipe Ferreira conta que a tradição encontrou terreno fértil no subúrbio da cidade durante o início do século XX, quando matadouros instalados na região forneciam as bexigas de bois e porcos usadas para produzir as primeiras bolas. Com a ascensão da fantasia, irão ter vários bexigueiros descendo na estação do matadouro para comprar o tal artefato que inicialmente era realmente o órgão do boi, e o seu cheiro era insuportável. 

Alguns mais violentos deixavam a bexiga de molho e depois passavam sal grosso, no intuito de bater em alguém. São várias hipóteses de surgimento da fantasia: Uns remetem à criação das “pastorinhas”, grupo de mulheres que cantavam pela Folia de Reis, junto com “palhaços mascarados”. Outros, remetem à palavra da língua inglesa “clown” que significa “palhaço”. Seus Elias, o artista fazedor de máscaras, já tem outra versão:

Na década de 40, existia um rapaz que performou na frente de um bloco de pastorinhas com a bexiga, batendo sem parar no chão e que atendia pelo nome de “Clóvis”. No ano seguinte, algumas pessoas começaram a unir a bexiga e a roupa e máscara da Folia de Reis dizendo que estavam saindo igual ao "Clóvis".

Para a historiadora Cristiane Braz – responsável pela pesquisa do documentário “Carnaval, bexiga, funk e sombrinha”, do então Secretário de Cultura, Marcus Faustini –, "o bairro, que abrigava o Matadouro de Santa Cruz e o hangar de um Zeppelin na década de 1930, teve importância fundamental para o aparecimento da brincadeira. Aqui no NOPH, há registros de que alguns militares alemães, que chegavam ao Brasil em dirigíveis, contribuíram para a nomeação dos foliões".

No ano seguinte, algumas pessoas começaram a unir a bexiga e a roupa e a máscara da Folia de Reis dizendo que estavam saindo igual ao "Clóvis".

Fotografia em preto e branco, diúrna, externa, de um pequeno grupo de pessoas fantasiadas com a mesma fantasia, caminhando na calçada. Elas vestem máscaras de uma criatura com orelhas e barbatanas, vestidas com macacões com nadadeiras nos braços. À direita, uma pequena praça, um comércio de esquina e algumas casas; à esquerda, a rua.
Grupo de clóvis no centro de Santa Cruz, 1 de março de 1949. Autor desconhecido. Acervo NOPH.       

Conheça mais:

Decreto nº 35.134 de 16/02/2012

Os Bate-Bolas / Clóvis - Memórias do subúrbio carioca

REFERÊNCIA

CARNAVAL, Bexiga, Funk e Sombrinha. Marcus Vinicius Faustini. Rio de Janeiro: 2006. DVD (1h03min).

Castilho, G. A. de. O ultra esplêndido carnaval na Terra das Maravilhas: As artes visuais na festa de Momo do subúrbio de Santa Cruz (1904-1980). 2019. Tese (Mestrado em Artes Visuais). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.

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Published in 10/11/2023

Updated in 9/04/2024

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