Mudança do nome do bairro

11/01/1947

Canhangá

Texto por Guaraci Rosa

Em dezembro de 2020, o então prefeito Marcelo Crivella baixou um decreto polêmico que consistia em trocar o nome da tradicional estrada do Cabuçu para homenagear o pastor evangélico Daniel Malafaia, que havia falecido recentemente. No entanto, a decisão gerou uma onda de revolta entre os moradores, uma vez que a estrada mantinha esse nome desde o período colonial, quando a Fazenda do Cabuçu existia na região.

Em resposta à atitude arbitrária, diversas campanhas e abaixo-assinados foram organizados com o intuito de reverter a mudança. A pressão surtiu efeito, e o prefeito em exercício, Jorge Felipe, acabou por revogar o polêmico decreto.

A controvérsia evidenciou a importância do nome de uma localidade para seus habitantes. O vínculo emocional com o lugar vai além do aspecto puramente geográfico, pois as pessoas estabelecem laços afetivos com a região onde trabalham, estudam, constituem suas famílias e, em essência, vivem suas vidas.

Modificar o nome de uma rua, praça, bairro, cidade ou país é uma tarefa extremamente delicada, pois isso mexe com a identidade e o sentimento de pertencimento da população. O nome atua como referência, um título que faz parte da memória coletiva de cada habitante e representa a tradição do local. Em geral, alterações desse tipo acarretam transtornos e geram inúmeras reclamações por parte da comunidade afetada.

Em Santa Cruz, ocorreu um episódio semelhante em 1945, quando o Conselho Nacional de Geografia, responsável pelos nomes das localidades no país, determinou que diversos lugares deveriam mudar de nome. Essa decisão baseava-se em decretos federais que visavam evitar a duplicidade de nomes de bairros, vilas, cidades e estações ferroviárias.

O conselho optou por alterar o nome do bairro para Canhangá, pois já existia uma cidade no Rio Grande do Norte com o nome de Santa Cruz. 

O nome de origem indígena provém de uma fazenda que existiu em Guaratiba; no entanto, houve alegações de que as terras pertenciam à Fazenda de Santa Cruz. Essa confusão geográfica e a aversão ao nome foram fatores que contribuíram para a resistência em realizar a troca.

A resistência da população foi liderada por políticos e autoridades locais que se opuseram fortemente à troca. Apesar das manifestações contrárias, a mudança foi imposta e, em julho de 1948, o bairro teve seu nome arbitrariamente alterado para Canhangá, incluindo a estação ferroviária.

No entanto, as manifestações persistiram e, em fevereiro de 1949, ocorreu uma nova mudança, quando uma portaria do diretor da Central do Brasil renomeou a estação para Estação Curato de Santa Cruz.

A pressão popular continuou e, finalmente, em maio de 1949, a câmara do Distrito Federal (atual cidade do Rio de Janeiro) discutiu a questão e decidiu restaurar o nome antigo do bairro. Entre as justificativas relevantes estavam a insatisfação da população e o fato de Santa Cruz ser um bairro mais antigo que a cidade potiguar. Diante disso, os vereadores acataram o pedido e o bairro recuperou sua nomenclatura original.

Após meses de debate, prevaleceu o retorno ao nome que há tempos estava enraizado na história do local: SANTA CRUZ.

Edição do jornal NOPH, de junho e julho de 1984, com a seguinte matéria  de destaque: "o dia em que quiseram mudar o nome de Santa Cruz". Ao  lado da matéria, uma fotografia em preto e branco do enterro simbólico de  Canhanga, que seria o novo nome da estação ferroviária de Santa Cruz.
Enterro simbólico de Canhanga. Esta atitude visava “enterrar” definitivamente a ideia da troca de nome. Jornal NOPH, edição junho/julho de 1984. Acervo NOPH.  

REFERÊNCIAS

A NOITE. Rio de Janeiro, 28 jul. 1948.

O GLOBO. Rio de Janeiro, 2 ago. 1948.

DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Rio de Janeiro, 9 mar. 1949.

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Published in 12/11/2023

Updated in 28/02/2024

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