Augusta Candiani

17/01/1844

Augusta Candiani

Texto por Guaraci Rosa

Falar sobre Augusta Candiani é destacar uma das mais notáveis artistas do século XIX no Brasil. Nasceu em Milão, em 1820, e chegou jovem ao Brasil em dezembro de 1843, acompanhada por seu marido, Gioacchino Candiani Figlio. Candiani brilhou como a principal cantora da Companhia Italiana de Ópera. Sua estreia aconteceu no Teatro São Pedro de Alcântara (atual João Caetano), no Rio de Janeiro, em 17 de janeiro de 1844. A ópera escolhida foi "Norma", de Vincenzo Bellini (1801-1835), em que ela protagonizou com maestria. A noite terminou com uma consagração, aplausos de pé e elogios entusiasmados do público por sua brilhante apresentação.

Retrato em preto e branco do rosto de Augusta Candiani. Ela é uma mulher  de pele clara e cabelos compridos, repartidos no meio, olhos grandes  escuros, nariz fino e boca pequena.
Retrato da Augusta Candiani. Autor Desconhecido. Fonte: Biblioteca Nacional.     

 Assim começou sua carreira no Brasil, que enfrentou desafios e conquistas ao longo do caminho. No entanto, é inegável que, artisticamente, ela foi brilhante em todas as dimensões do seu trabalho. Além de ser uma cantora lírica de talento imenso, ela também tinha afinidade com a música popular, sendo responsável por popularizar a modinha no teatro, ajudando a difundir esse estilo musical. Vale ressaltar que em sua trajetória despertou a admiração de muitas pessoas. A beleza e o talento fascinaram muitos homens, inclusive Machado de Assis em sua juventude. Seu sucesso foi tanto que até sua primeira filha foi batizada pela imperatriz, junto com o imperador D. Pedro II. A criança recebeu o nome de Teresa Cristina, uma homenagem à amiga recém-conquistada. 

A vida pessoal de Augusta Candiani foi marcada por três casamentos. Ela era uma mulher à frente do seu tempo. Em 1845, após ser agredida pelo marido, decidiu sair de casa. Já em 1846, estava convivendo com José de Almeida Cabral, famoso compositor de modinhas. Essa atitude causou um escândalo na sociedade do Rio de Janeiro: seus espetáculos foram cancelados, e ela passou a ser discriminada, o que a fez se afastar da cidade. Diante de tantos dissabores, Candiani e Cabral viajaram para várias cidades do Brasil. 

Aonde quer que fossem, a cantora era aclamada, lotando dezenas de teatros. Ela inclusive fixou residência no Rio Grande do Sul por alguns anos. No final dos anos de 1870, ela retornou ao Rio de Janeiro e foi morar no bairro de Santa Cruz, na rua do Comércio, no. 215, atual rua Senador Camará. A casa lhe foi doada pelo imperador D. Pedro II. 

Sua situação financeira estava em decadência e seus shows já eram escassos. Mesmo tendo feito uma operação de catarata, seus olhos não resistiram, e ela ficou cega. Neste histórico bairro suburbano, ela já estava em outro relacionamento e desta vez com Bartolomeu Guimarães. Entre várias atribuições, ele era autor de peças teatrais e um grande companheiro de Candiani. No final dos anos de 1880, ela adoeceu e passou a ser cuidada por seu companheiro.

Em 28 de fevereiro de 1890, esquecida pelo grande público, faleceu Augusta Candiani. Seu sepultamento ocorreu no cemitério de Santa Cruz. No ano seguinte, Bartolomeu também morreu e foi enterrado no mesmo campo santo. 

Em 2023, surge a ideia de homenagear a grande artista que resistiu a uma sociedade patriarcal. A proposta é exaltar a resistência da cantora e construir um museu na mesma casa em que Candiani morou: A Casa-Museu e Centro de Resistência da Mulher Augusta Candiani. O projeto foi idealizado pelo professor e museólogo, Sinvaldo do Nascimento Souza, e está recebendo grande apoio da OAB-Mulher, OAB-Escola, Associação dos Amigos da Ponte dos Jesuítas, IMASC, Ecomuseu de Sepetiba, entre outros. A casa está listada como bem preservado pelo decreto nº 12.524/93. O principal foco do projeto é obter o apoio da prefeitura ou da iniciativa privada para a compra do imóvel.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Andrea; CANDIANI, Augusta. In: SCHUMAHER, Schuma; BRASIL, Érico Vital (org.). Dicionário Mulheres do Brasil – de 1500 até a atualidade. Biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.

SANCHO, Anna Clara. Moradores de Santa Cruz pedem que a prefeitura crie a casa-museu Augusta Candiani. O Dia, jun. 2023. Disponível em: https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2023/06/6644740-moradores-de-santa-cruz-pedem-que-a-prefeitura-crie-a-casa-museu-augusta-candiani.html. Acesso em: 10 ago. 2023

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Published in 10/11/2023

Updated in 27/02/2024

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